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domingo, 16 de março de 2014

Ucrânia, um país com um histórico de tragédias.

Inquietações no país, contudo, têm origem muito mais remota
Sua planície outrora coberta por florestas não é o que se pode chamar de local pacato, e a história da Ucrânia registra invasões durante um período de mais de mil anos. Saqueadores mongóis foram sucedidos por lituanos, seguidos por rutênios, poloneses e tártaros. Depois vieram os russos, o comunismo, a fome e a opressão que durou décadas. A história da Ucrânia ao longo do século XX é uma sucessão de tragédias. Saiba mais: Por que UE e Rússia querem tanto a Ucrânia? Depois de um brevíssimo período de independência (1917 - 1921), o país foi invadido em 1922 pela Rússia e anexado para formar a URSS. Nos anos 30, mais de sete milhões de pessoas morreram de fome em decorrência de uma medida do ditador soviético Josef Stalin, que bloqueou o acesso da Ucrânia à comida em represália à resistência dos ucranianos em aderir à sua proposta de coletivização agrícola. Depois, durante a II Guerra Mundial, o país foi invadido por nazistas e palco de muitas batalhas violentas. Em seu livro Pós-Guerra, Uma História da Europa desde 1945, o historiador Tony Judt explica que “os ucranianos, em particular depois de 1941, de tudo fizeram para se beneficiar da ocupação alemã, na busca da tão esperada independência, e as regiões do leste da Galícia e do oeste da Ucrânia registraram sangrento conflito civil entre ucranianos e poloneses, tanto sob o patrocínio da guerrilha antinazista quanto da antissoviética. (...) Ucranianos lutaram ao lado da Wehrmacht, contra a Wehrmacht, contra o Exército Vermelho e entre si, dependendo do momento e do local”. Em 1946, logo após do fim da guerra, o país estava destroçado e, com safras deficientes, passaria por outro longo período de fome até se recuperar. Durante a Guerra Fria, a Ucrânia era o mais importante dos países soviéticos depois da própria Rússia e, por isso, era acompanhada atentamente pelos comunistas – dos mais de 10 milhões de pessoas conduzidas para morte nos Gulags siberianos (campos de concentração comunista), mais de 20% eram ucranianos. Com o colapso do comunismo em 1991, Leonid Kravchuk — ativo membro da burocracia comunista e ex-secretário de ‘Questões Ideológicas’ do partido na Ucrânia – fez uma leitura rápida da situação e, num passe de mágica, abandonou a foice e o martelo para se transformar no primeiro presidente da Ucrânia independente. Como todas as empresas eram estatais, o país deu início a um processo de privatização e, assim como aconteceu em outros ex-membros da URSS, a antiga oligarquia comunista dominante foi beneficiada. Com isso, boa parte das grandes empresas ucranianas está nas mãos de ex-políticos e empresários ligados a Moscou. Em 2004, a Kryvorizhstal era uma das maiores usinas de aço do mundo – com 42 mil empregados e lucro bruto anual de 300 milhões de dólares –, e foi posta à venda, tardiamente. Ninguém em Kiev se surpreendeu com a notícia de que o comprador era Viktor Pinchuk, um dos empresários mais ricos do país e genro do então presidente da Ucrânia, o também comunista convertido Leonid Kuchma – um títere acusado de corrupção e comandado pelos russos.

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